A pequena aldeia de Castelo Rodrigo é um daqueles locais parados no tempo que nos fazem sentir noutro local e noutra época. Tudo aqui está preservado até ao mais pequeno detalhe e todos os seus becos e ruelas contam histórias da nossa história. Hoje, faz parte da rede de Aldeias Históricas de Portugal e é também uma das mais bonitas e peculiares povoações do nosso país.
Juntamente como outras aldeias da região, Castelo Rodrigo esteve fazia parte de um antigo território chamado Ribacôa, sempre muito disputado entre Portugal e Espanha. A aldeia seria conquistada aos mouros pelo rei de Leão no final do século XIII e integrada em Espanha. Mais tarde, já no reinado de D. Dinis, foi incorporada em Portugal.
Mas esta ligação a Espanha parece não se ter perdido com o tempo e foram vários os episódios em que Castelo Rodrigo mostrou partido pelo país vizinho durante várias disputas. Isso não significa, obviamente, que os habitantes de Castelo Rodrigo não fossem tão patriotas como os restantes portugueses. Tinham apenas uma opinião distinta.
O primeiro sinal de apoio a Espanha deu-se durante a crise de sucessão de 1383-1385, quando a aldeia apoiou D. Beatriz, herdeira legítima do trono mas casada com o rei de Castela. Como castigo por esse apoio, D. João I tomou uma decisão insólita e inédita: mandou inverter o escudo português no brasão de Castelo Rodrigo.
Trata-se de um caso único em todo o mundo e sem paralelo em Portugal. Todo o povo de uma aldeia seria humilhado por várias gerações e marcado como traidor do reino. Quem visitasse Castelo Rodrigo naquela época, bastaria olhar para o brasão português virado ao contrário para saber o que fizeram os seus habitantes durante a crise dinástica.
Mas Castelo Rodrigo voltaria a ser preponderante durante o domínio filipino. Mostrou, mais uma vez, apoio ao lado espanhol. Como recompensa, D. Filipe I agraciou o secretário da aldeia com o título de Conde e, mais tarde, nomeou-o Marquês e Vice-Rei de Portugal.
Mas o governo do Marquês de Castelo Rodrigo era bastante impopular e a população, revoltada, incendiou o seu palácio, cujas ruinas ainda hoje se podem visitar na aldeia. O palácio nunca mais seria reconstruído e hoje é apenas mais um dos monumentos de Castelo Rodrigo, vestígio do seu passado turbulento.
Ora… toda esta importância histórica deu a Castelo Rodrigo inúmeros pontos de interesse que hoje podem ser visitados. O pelourinho em estilo manuelino é um deles, juntamente com as ruínas do antigo palácio do governador. As suas igrejas e capelas e o seu convento são também motivos de destaque.
Um passeio pelas suas ruas íngremes e sinuosas irá revelar vários pequenos detalhes que merecem ser apreciados com calma e atenção. Casas de origem manuelina e até árabe pontuam os seus becos e ruelas, onde também se encontram a torre do relógio e a antiga cisterna de água.
Integrada na rede de Aldeias Históricas de Portugal, Castelo Rodrigo está muito bem preservada e conserva ainda o seu aspeto medieval. Está também completamente rodeada de imponentes muralhas, o que lhe confere um ambiente que nos transporta para outros tempos, em que as disputas territoriais eram constantes.
Depois de um passeio pela aldeia (que se vê em apenas uma tarde) suba até à Serra da Marofa, localizada atrás da povoação. Aqui, alto dos seus 975 metros, pode contemplar toda uma vasta área das antigas terras de Ribacôa.
Depois do passeio, pare em qualquer um dos bons restaurantes da região e prove alguns dos pratos típicos de Ribacôa. Uma imensa variedade de bolos, fumeiros, queijos, compotas, vinhos, azeites e amêndoas estará ao seu dispor para recuperar energias e partir em busca do próximo destino.
E se quiser conhecer mais algumas das Aldeias Históricas de Portugal, bem perto de Castelo Rodrigo pode encontrar Almeida, Castelo Mendo e Trancoso. Todas elas ficam a uma curta distância de carro e encerram muitas histórias nas suas casas, becos, ruelas e muralhas.
E no final da sua visita a Castelo Rodrigo, não vá embora sem comprar uma pequena lembrança ou um produto regional. Além de ajudar a economia local, irá também contribuir para que os seus habitantes possam continuar a viver aqui e a recebê-lo sempre de braços abertos, como eles bem sabem fazer.