A pequena e singela aldeia de Alvoco da Serra é um dos segredos mais bem guardados da Serra da Estrela. Localiza-se no fértil vale da Ribeira de Alvoco, no concelho de Seia, a 680 metros de altitude. As encostas que rodeiam a aldeia estão repletas de socalcos construídos para domar a paisagem às necessidades humanas.
Com pouco terreno plano onde semear as suas colheitas e localizando-se no coração do Parque Natural da Serra da Estrela, Alvoco da Serra e os seus habitantes não tiveram outra alternativa: era preciso moldar a montanha de forma a conseguir espaço para as colheitas e para as pastagens dos animais.
Estes animais, principalmente cabras e ovelhas, forneciam também a lã para as fábricas que aqui se instalaram no século passado. As fábricas fecharam e a indústria desapareceu. A agricultura e a pastorícia continuam a ser dominantes, embora o turismo atraia cada vez mais visitantes.
Visitar Alvoco da Serra é uma experiência única e uma viagem a um passado repleto de histórias e tradições. E aqui, a grande tradição é mesmo a gestão da água, um bem precioso que os habitantes da aldeia se habituaram a gerir de forma eficaz e em comunidade. Essa gestão era feita através dos chamados “giros da água”.
Ora… numa aldeia onde toda a gente (incluindo as fábricas de lanifícios) dependiam da água, foi criado um sistema que determinava o seu uso em turnos. Cada família tinha uma hora definida para regar os seus campos, que muitas das vezes poderia ser durante a noite.
E mesmo durante a noite, os habitantes de Alvoco saiam com os seus lampiões para alumiar os campos e usufruir da sua vez de utilizar a água. Os lampiões ao longe, nos socalcos, criavam um jogo de luzes que convidavam à imaginação: as crianças julgavam ser pirilampos ou, quando assustadas pelos adultos, bruxas e assombrações.
Estas memórias perduram ainda hoje nos mais velhos da aldeia e a população teima em não perder esta tradição, mesmo que já não seja necessário partilhar a água seguindo as regras antigas. Por isso, no solstício de Junho, saem de casa de noite com lampiões e dirigem-se aos socalcos da aldeia. É como se fosse um presépio em pleno Verão.
A Casa Museu de Alvoco da Serra preserva ainda estas memórias e é um ponto de visita obrigatória para compreender a história e a cultura desta aldeia da Serra da Estrela. É aqui que se explica tudo o que envolvia os tais “giros da água” que tão importantes foram para a vida comunitária e para a sobrevivência destas pessoas.
A melhor forma de conhecer Alvoco da Serra é passeando pelos seus becos e ruelas. A alcunha de “aldeia granito” é fácil de perceber: esta rocha domina toda a paisagem, desde a montanha, às casas, às ruas e às fontes de água. A Casa do Barão e a capela medieval de São Pedro são os 2 grandes destaques do património da aldeia.
E como em qualquer outro local da Serra da Estrela, a gastronomia local é de excelência. Destacam-se os pratos de carne, como o cordeiro e o cabrito. O queijo da Serra também não pode faltar, assim como os doces e as compotas. E claro… o pão, ao melhor estilo serrano.
Vale também a pena visitar alguns locais nos arredores de Alvoco da Serra. Perto da aldeia localiza-se a belíssima Loriga e a sua praia fluvial, ótima para dar um mergulho nos dias mais quentes do Verão. E se a praia fluvial de Loriga estiver demasiado cheia, o Poço da Broca de Barriosa é outra excelente opção.
Cabeça, Valezim e Sazes da Beira também se localizam bem perto e, tal como Alvoco da Serra, fazem parte da rede de Aldeia de Montanha. A um pouco mais de distância ficam Unhais da Serra, Erada e Cortes do Meio, também elas pertencentes às Aldeias de Montanha.
E enquanto passeia de carro entre cada uma das aldeias, aproveite para se deleitar com a imponência e a beleza da Serra da Estrela. A paisagem muda consoante as estações do ano e, embora seja muito visitada durante o Inverno, a verdade é que é durante o Outono que ela atinge todo o esplendor da sua beleza.
No fim da sua visita a Alvoco da Serra, não vá embora sem antes comprar uma pequena lembrança ou um produto regional. Além de ajudar o comércio local, irá também contribuir para que os seus habitantes possam continuar a viver aqui e a recebê-lo sempre de braços abertos.