Longe do turismo de massas que acorre às praias nos meses de Verão, existe um Algarve quase secreto, ainda por explorar. É o Algarve das aldeias típicas, das serras com ribeiros e cascatas, que nos faz lembrar que o espírito desta região e das suas gentes ainda se mantém vivo, apesar da massificação. E esse espírito do Algarve tradicional ainda está presente em Estoi.
Localiza-se no concelho de Faro e tem menos de 4 mil habitantes, mas possui uma riqueza histórica e arquitetónica difíceis de igualar para uma localidade tão pequena. Em Estoi, sobressai o seu palácio, hoje transformado em pousada, e as ruínas romanas de Milreu, uma das mais importantes de Portugal.
Apesar de estar situada perto de grandes centros urbanos, da autoestrada e das praias, a pequena Estoi conseguiu manter a sua autenticidade algarvia. As casas típicas caiadas de branco e com janelas decoradas dão um ar pitoresco à vila e as suas ruas estreitas e sinuosas convidam a um passeio.
A melhor forma de explorar a localidade é mesmo através de uma caminhada pelos seus becos e ruelas. É esta a melhor forma de apreciar cada detalhe e cada pormenor. É fácil apaixonar-se pelas suas casinhas típicas e bem estimadas e pelas muitas flores que enfeitam as ruas.
A cada esquina existe sempre uma pequena surpresa: uma fonte de água fresca, um banco de jardim com sombra, umas pequenas escadas calcetadas que conduzem a outra rua estreita e sinuosa, alguns monumentos para observar com calma a cada paragem e até painéis de azulejos com poemas.
Os turistas vagueiam pelas ruas da vila, as crianças brincam em redor das árvores ou andam de bicicleta e os mais velhos trocam 2 dedos de conversa sentados no banco do jardim ou numa esplanada. É o Algarve mais típico em estado puro. Um Algarve que muitos de nós pensava já não existir ou ser possível encontrar.
A localidade de Estoi foi muito afetada pelo sismo de 1755, tal como toda a região do Algarve. Por isso mesmo é difícil encontrar casas e monumentos anteriores a essa data. As igrejas, por exemplo, foram destruídas pelo terremoto e posteriormente reconstruídas no mesmo local.
A sua igreja matriz é um dos locais mais peculiares desta pequena vila. Foi uma das igrejas reconstruídas totalmente após o sismo de 1755 e, para a construção dos altares, foram utilizadas madeiras de navios e pequenos barcos de pescadores. Além disso, um dos flancos dos altares está decorado com instrumentos agrícolas, uma escolha deveras peculiar.
É em Estoi que se localiza também uma dos poucos palácios do Algarve. O Palácio de Estoi teve a sua origem no século XVII, numa quinta de veraneio. Mas a sua construção foi atribulada e demorada. Depois de passar pelas mãos de vários membros da mesma família, acabou por ser abandonado até que foi totalmente reconstruído em 1909.
Combina harmoniosamente os estilos barroco, rococó, neoclássico e romântico. Apesar da sua aparência exterior singela, o interior demonstra a ostentação típica daquela época. Apesar de ser uma pousada com acesso restrito aos hóspedes, é possível visitar os seus jardins onde o maior motivo de interesse é um belíssimo painel de azulejos do início do século XX.
Depois de se deslumbrar com o palácio de Estoi, rume até às ruínas romanas de Milreu. São um dos mais importantes vestígios romanos em Portugal e foram habitadas desde o século I até ao século XI. Aqui se encontram lagares de azeite e de vinho, antigas estâncias termais e até uma opulenta villa romana.
As ruínas de Milreu sofreram várias reconstruções e modificações ao longo dos séculos e foram passando de mão em mão até aos dias de hoje. O templo do século IV foi transformado em igreja no século VI e, no século X, existia aqui um cemitério muçulmano. É essa mistura de influências que hoje é possível observar.
Durante a sua visita a Estoi irá perceber perfeitamente o principal atrativo desta localidade: a sua atmosfera peculiar e especial. Aqui sente-se ainda toda a alma do Algarve mais típico e genuíno, longe da massificação sentida na sua zona costeira e nas suas praias.
E antes de ir embora, não se esqueça de comprar uma pequena lembrança ou produto local aos comerciantes da vila. Para além de comprar um produto de qualidade, irá ajudar o comércio local e a fazer com que os habitantes de Estoi possam continuar a manter vivo o Algarve mais genuíno e a recebê-lo de braços abertos, como tão bem sabem fazer.