Já quase não existem locais assim. Mas Montesinho continua, orgulhosamente, a ser uma excepção. Esta pequena aldeia, pertencente a Bragança e localizada no coração do parque natural que lhe dá o nome, é uma das mais típicas e bonitas de Trás-os-Montes. Aqui ainda se respira tradição e ser genuíno é a palavra de ordem.
Localizada a pouco mais de 1000 metros de altitude, Montesinho foi totalmente recuperada mas conseguiu manter-se fiel às suas origens. As casas continuam a ser tipicamente trasmontanas, feitas de granito e com telhados de lousa ou ardósia, as rochas que abundam na região. Também as suas ruas são calcetadas com granito.
As varandas das casas continuam a ser de madeira, decoradas com flores que, na Primavera e no Verão, enchem as ruas da aldeia com mil e um cores diferentes e lhe dão um pouco da vida que se tinha perdido durante os meses frios de Inverno. Aliás, esta zona de Trás-os-Montes é sobejamente conhecida por ter neves em abundância durante esta época do ano.
A melhor forma de explorar a aldeia é caminhando pelos seus becos e ruelas e apreciando cada detalhe. Por todo o lado há pequenos pormenores repletos de encanto e que nos recordam que estamos em pleno Trás-os-Montes e numa das suas mais emblemáticas aldeias. Quando ao património, o destaque vai para a sua singela mas bonita igreja, construída no século XVII.
Montesinho já teve muito mais vida do que tem hoje. Localizada bem perto da fronteira, já possuiu um posto oficial da guarda fronteiriça e já foi uma aldeia dormitório para os trabalhadores das minas que se localizam perto, mas que fecharam há umas décadas, levando ao abandono gradual da localidade.
Os mais novos partiram em busca de melhores condições de vida. Ficaram por aqui os mais velhos, sempre resistentes e habituados à dureza da vida no campo. Mas a recuperação da aldeia para o turismo trouxe de novo alguma vida e, com ela, esperança em dias melhores para os mais novos.
É impossível falar de Montesinho sem mencionar a extraordinária beleza que a rodeia. A aldeia está inserida no Parque Natural de Montesinho, um dos maiores de Portugal, que abrange as serras de Montesinho e da Coroa. Por aqui abunda fauna e flora que não se encontra em mais nenhum local do país.
O parque é atravessado por rios e ribeiros que lhe conferem ainda mais encanto. É possível visitar algumas das suas zonas de carro, mas recomenda-se vivamente que faça alguns dos muitos percursos pedestres oficiais e sinalizados. Vários desses trilhos passam ou começam na aldeia de Montesinho. Outros percorrem caminhos rurais até aldeias como Rio de Onor, Varge ou Gimonde, por exemplo.
Os destaques vão para o Trilho do Porto Furado (PR3), um percurso circular com 8km de extensão e que começa e acaba na aldeia de Montesinho. E se tem tempo suficiente (e uma excelente condição física), nada como fazer um trilho com 50 km de extensão e conhecer vários locais do parque. Trata-se da Grande Rota de Montesinho, uma aventura para fazer em 3 dias.
Ao explorar os arredores da aldeia de Montesinho, para além de descobrir as belezas naturais do parque natural, pode ainda descobrir os vários dialetos que aqui se falam, quase todos em vias de extinção: em Rio de Onor ainda se fala riodonorês e em Guadramil, ainda existem vestígios do guadramilês. Estes dialetos são uma mistura de português arcaico com castelhano e resultam do isolamento a que esta região de Trás-os-Montes esteve sujeita durante séculos.
Outro grande vestígio desse isolamento é a existência de aldeias comunitárias, onde os recursos agrícolas são partilhados por toda a população. Outrora, quase todas as aldeias do parque natural de Montesinho eram comunitárias. Hoje em dia, esse hábito está apenas limitado a Rio de Onor, onde muitos aspetos do dia-a-dia da população ainda são decididos em conjunto.
Como não poderia deixar de ser, ou não estivéssemos nós em Trás-os-Montes, não deixe de provar a maravilhosa gastronomia da região. Os destaques são a carne e os enchidos, ambos de muito boa qualidade. A culinária da região é conhecida por ser “farta e pesada”, fruto do trabalho árduo nos campos em que era imperativo alimentar bem os trabalhadores para que pudessem desempenhar as suas funções.
Não vá embora da aldeia sem comprar um produto local ou uma pequena recordação. Um frasco de mel, uma peça de olaria ou um saco com enchidos da região. Para além de comprar produtos de qualidade, irá contribuir para ajudar a economia local. Só assim Montesinho poderá continuar viva, à sua espera e à espera dos seus jovens que partiram e ainda não conseguiram voltar.