Ao contrário da grande maioria das opiniões, a Serra da Estrela é um local fantástico para se visitar durante todo o ano e não apenas no Inverno. São muitas as opções para visitar a montanha mais alta de Portugal Continental durante todo o ano. A Nave da Mestra é uma delas e tem o dom de deixar convencidos até os mais céticos dos aventureiros.
Trata-se, talvez, de um dos locais mais secretos da Serra da Estrela. Localiza-se a 1700 metros de altitude, em pleno planalto da serra, e chegar lá não é tarefa fácil. Mas o esforço compensa, certamente. Afinal de contas, estamos num local muito pouco explorado e quase desconhecido pela maioria das pessoas. Chegar aqui é quase descobrir um local só nosso.
Os campos são verdes, os blocos de granito fraturados estão por todos os lados e um pequeno riacho de águas cristalinas, que corre serenamente, dá um ar mágico a este local. Ao fundo vê-se o vale glaciar que leva até Manteigas do lado direito, entre o Cântaro Magro e o Cântaro Gordo, está o Covão da Ametade, onde nasce o rio Zêzere.
A Nave da Mestra é também conhecida como a Nave da Barca por causa de um grande bloco de granito que aqui existe e que tem a forma de um barco. Este local serviu, durante muitos séculos, como abrigo de pastores e seus rebanhos. Hoje, serve também de abrigo aos montanhistas que por aqui passam e que param para se refrescarem nas águas do ribeiro enquanto recuperam as forças para continuar a caminhada.
Para chegar à Nave da Mestra, caso venha do lado de cima, terá que passar por uma enorme fenda que se abre no meio de um penedo gigante. É quase como entrar por uma porta secreta para um pequeno pedaço do paraíso. Mal acaba de passar a fenda, encontra o riacho e os pastos verdejantes.
Mas existe aqui um vestígio da mão humana, que intriga os visitantes, e que destoa por completo da pureza rude e simples da montanha. Reza a história que um importante Juiz, um tal de Dr. Matos, resolveu construir aqui uma casa de férias para passar os verões. Terá sido em 1910 e a matéria prima (assim como os trabalhadores) foram transportados em mulas desde Manteigas por um trilho que ainda hoje é visível.
Para completar tal obra, foi necessário utilizar macacos hidráulicos para levantar as pedras gigantes, incluindo a que serve de telhado à casa. Uma obra faraónica, louca e com tudo para dar errado. E deu mesmo… poucos anos depois, a casa foi abandonada à sua sorte. Restam hoje apenas as ruínas, que dão asas à imaginação de quem por aqui passa.
E não sabemos se o tal Dr. Matos seria republicano, mas reza a lenda que, durante esses tempos, aqui se reuniam os adeptos da República com a intenção de planear as suas lutas contra o regime monárquico. O local parece ser perfeito para todo o tipo de conspirações: isolado e com privacidade suficiente, longe de qualquer vestígio de população.
Há vários caminhos, trilhos e formas de chegar à Nave da Mestra. Pode, por exemplo, seguir pela chamada “Rota do Carvão” – PR4 ou através da “Rota do Maciço Central” – PR5 MTG. Ambas são de dificuldade elevada. A primeira consiste em mais de 20 quilómetros de extensão, enquanto que a segunda são apenas 10 quilómetros (que, mesmo assim, continuam a ser bastante exigentes).
Não é, portanto, aconselhável fazer estas caminhadas com crianças pequenas. Deve evitar também realizá-las em dias de chuva ou mau tempo e também quando esteja calor intenso. De resto, já sabe que convém ter muito bom senso, boa forma física, levar muita água e mantimentos e um mapa físico, já que a rede de telemóvel pode não ser a melhor nesta zona da Serra da Estrela.
Se gosta de explorar o melhor que Portugal tem para oferecer e é fã de locais quase secretos onde apenas se pode chegar através de trilhos, então a Nave da Mestra, na Serra da Estrela, tem todos os ingredientes para o cativar. Paz, sossego, natureza em estado puro e um pouco de histórias e lendas para dar ainda mais encanto. De que está à espera?