Localizada no concelho de Chaves, em Trás-os-Montes, a belíssima vila de Vidago é conhecida sobretudo pelo seu palácio e pelas suas termas. Era apenas uma pequena aldeia quando as suas águas termais foram descobertas. A partir daí, começou a captar as atenções do país e as visitas da realeza.
Foi em 1863, quase por acidente, que a nascente das águas termais foi descoberta. Não é de estranhar a sua localização: brotam a partir de uma fratura no solo que se estende desde Ourense, em Espanha, até Coimbra. É nesta falha que ocorrem as nascentes termais de Chaves, Vidago, Pedras Salgadas e São Pedro do Sul, entre outras.
Segundo se consta, teria sido um pobre camponês que, em 1860, descobriu as águas termais de Vidago. E tudo fruto do acaso: o homem queria apenas saciar a sede e resolveu provar a água de uma pequena fonte. Notou que possuía um sabor estranho e que lhe aliviou a dor de barriga. O relato acabaria por chegar a um médico da vila que mandou analisar a fonte.
Numa altura em que a monarquia se aproximava já do seu fim, a realeza portuguesa tomou conhecimento das propriedades medicinais destas águas e aqui mandou construir um palácio. A intenção seria receber a fina flor da aristocracia portuguesa e europeia num ambiente que conjugava o luxo e a serenidade.
A construção da linha férrea entre Vila Real e as Pedras Salgadas em 1907, pelo rei D. Carlos, que se estendeu para Vidago em 1909, colocou as termas numa renovada popularidade. Vidago, uma pequena aldeia de Trás-os-Montes, longe da capital e da vida palaciana, via-se subitamente repleto de membros da realeza.
Criavam-se assim todas as condições necessárias para fazer de Vidago um destino turístico de excelência para a realeza portuguesa e europeia: um grande e luxuoso palácio e bons acessos de comboio. Mas o destino trocou as voltas ao projeto.
Com o regicídio, seria o seu filho, D. Manuel II, quem seria o convidado de honra da inauguração. Nova reviravolta da história: a abertura estava marcada para 5 de outubro de 1910, dia em que se deu a instauração da República. A abertura do Palace seria no dia seguinte, com a bênção republicana a substituir o fausto real.
Assim, o Palácio de Vidago foi o último palácio a ser construído em Portugal. Mas a realeza nunca usufruiu dele, sendo que o povo e a vila de Vidago ficaram com um dos mais belos monumentos portugueses, que hoje é um hotel.
Mesmo assim, na época da sua inauguração, foi poiso da aristocracia portuguesa e europeia. Ou seja… apesar de nunca ter posto um pé no palácio, o Rei D. Carlos acertou nas previsões (pelo menos momentaneamente).
E assim foi durante alguns anos… mas os portugueses trocaram as termas pelas praias, a aristocracia europeia descobriu novos hotéis luxuosos noutras paragens mais acessíveis. E, lentamente, o Vidago Palace foi perdendo protagonismo, isolado numa pequena vila do interior de Portugal.
Até que em 2006, perante o declínio e a degradação evidentes do espaço, se decide encerrá-lo completamente e proceder a uma remodelação revolucionária. Hoje, o Palácio de Vidago é um hotel de luxo, rodeado por um imenso parque verde de onde brotam as suas águas termais, com campo de golfe e casas de madeira no meio da floresta.
O luxo continua presente, mas desta vez acessível ao comum dos mortais, desde que tenha dinheiro para pagar, claro. E embora grande parte dos frequentadores do Vidago Palace se limitem a ficar no interior das instalações do palácio ou nos seus jardins, são muitas as atividades que é possível praticar em Vidago e nos arredores.
Um passeio por Vidago repleta uma vila que é uma espécie de mistura entre Trás-os-Montes e Sintra. Trata-se de uma típica vila transmontana mas repleta de velhos edifícios construídos nos tempos áureos da exploração da água e das visitas da nobreza. Muitos eram hotéis ou balneários mas grande parte deles está hoje ao abandono.
Se rumar a norte, a apenas 15 minutos de distância encontrará Chaves. Trata-se de uma cidade que dispensa apresentações. Também aqui encontra águas termais (as mais quentes da Europa) mas o seu grande destaque é mesmo a sua belíssima ponte romana de Trajano, a mais antiga e melhor conservada de Portugal.
Existem outros vestígios romanos na cidade e o seu museu alberga várias peças e artefatos desta era que foram sendo encontrados ao longo dos séculos. Em Chaves fica ainda o início da mítica Estrada Nacional 2, que atravessa o país de norte a sul. Nos últimos anos, muitos turistas acorrem aqui para iniciar a sua travessia por Portugal.
E como não poderia deixar de ser: destaque para a gastronomia. O presunto e o folar de Chaves são famosos, mas o que não pode mesmo perder são os seus pastéis. Os pastéis de Chaves, feitos de massa folhada e de carne picada, conquistam cada vez mais adeptos e podem ser agora comprados em qualquer local do país, mas sabem sempre melhor na cidade que os inventou.
Se visitar Vidago e os seus arredores, não se limite apenas ao Vidago Palace. Percorra as ruas da vila, explore as típicas aldeias transmontanas e dê um salto até à belíssima cidade de Chaves. E não se esqueça: está em Trás-os-Montes, uma região com um povo que faz questão de o receber sempre de braços abertos.
Belíssimo artigo. Muitos parabéns