É daquelas coisas que nos conseguem deixar sem palavras: um castelo abandonado, nas mãos de privados, sem que ninguém faça nada. Acontece no Alentejo com o Castelo Real de Montoito, também conhecido por Castelo de Valongo. Fica a cerca de 25 quilómetros de Évora, entre Montoito e Valongo e dói a alma só de olhar para ele.
Portugal é um dos países europeus com mais castelos: no total, teriam sido mais de 400, embora alguns estejam em ruínas e outros já nem sequer existam. O Castelo de Valongo não é, portanto, um caso isolado. Por esse país fora existem dezenas de castelos em ruínas ou mal conservados. No Alentejo, são vários os exemplos.
Muitos dos castelos portugueses foram reconstruídos na primeira metade do século passado. E por estranho que possa parecer, o que hoje vemos deles é apenas um edifício reconstruído, nem sempre de acordo com o plano original do castelo em causa. É que, alguns dos castelos portugueses chegaram a funcionar como armazéns ou estábulos, por exemplo.
Mas o Castelo de Valongo é um caso especial. Em relação aos restantes castelos abandonados é possível pedir contas e justificações ao Estado sobre o seu abandono e até promover obras de recuperação. Mas, neste caso, trata-se de um castelo localizado numa propriedade privada, na Herdade da Grã.
O castelo fica no topo de uma colina tipicamente alentejana. O campo que o rodeia está cultivado com grandes vinhedos e bem perto existe uma represa de água que lhe confere uma atmosfera ainda mais mágica. Este espelho de água cria também as condições ideais para os amantes da fotografia, que aqui acorrem com frequência.
É um dos raros castelos portugueses de traça tipicamente medieval (existem mais castelos medievais em Portugal, mas foram bastante alterados ao longo do tempo). Segundo alguns documentos, terá sofrido obras no século XV e XVI, quando ganhou uma torre de menagem com traça manuelina.
O Real Castelo de Valongo é monumento nacional desde 1910. Mas mesmo assim, continua a ser propriedade privada, fechado a cadeado, impedindo assim qualquer visita ao seu interior. E isso não deixa de ser irónico: mesmo em ruínas, continua a negar-se o acesso a quem o pretende visitar.
Não existem muitos documentos oficiais acerca deste castelo e, portanto, a sua história está um pouco envolta em neblina. Diz-se que aqui teria existido uma fortaleza anterior construída pelos mouros e tomada por Geraldo Sem Pavor após a conquista de Évora. Há quem diga que o seu interior possui mesmo algumas inscrições em árabe.
Tal como era costume na época, o material de construção da fortaleza árabe terá sido utilizado para edificar o castelo atual. O edifício tinha, além das funções militares, também a de paço senhorial e terá sofrido algumas remodelações ao longo do tempo. Não se conhecem batalhas travadas neste local nem se sabe se alguma vez esteve diretamente envolvido em alguma guerra.
A pouca documentação disponível menciona diversas cartas de compra e venda. Terá passado por várias mãos, desde os descendentes de Pero Anes até Dona Leonor Afonso, filha ilegítima de D. Afonso III. O certo é que, talvez por ser bastante isolado e desconhecido, o castelo permaneceu em mãos privadas até aos dias de hoje.
Tratando-se de propriedade privada, recomenda-se os cuidados normais neste tipo de situações caso queira visitá-lo. Infelizmente, o máximo que poderá fazer é admirá-lo de fora e imaginar como será o seu interior e como tudo seria diferente se o Castelo de Valongo fosse propriedade pública.
E já que aqui está, vale a pena também refletir na questão dessa mesma propriedade privada: quantos monumentos deste país pertencem a uma família e estão em ruínas, fechados a cadeado e longe dos olhares de todos nós? Quase nenhum.
E se, felizmente, são raríssimos estes exemplos, por que razão continua o Castelo de Valongo nas mãos de privados que não lhe dão o valor devido? Recuperar um castelo não é tarefa fácil nem é barato. Se o proprietário não consegue fazer isso sozinho, então que se arranje uma solução.
Mas acima de tudo, que essa ou qualquer outra solução para a sua recuperação implique também a sua abertura ao público em geral. Afinal de contas, este castelo pertence a todo o povo português.