É difícil imaginar um outro local com tanto misticismo como o Mosteiro de Pitões das Júnias, no Gerês. Trata-se de um local totalmente isolado do mundo exterior onde os monges viviam em recolhimento e dependentes apenas de si próprios e daquilo que a terra lhes dava. Na época em que foi construído, era o local perfeito para viver uma vida dedicada apenas à religião.
Não se sabe ao certo quando foi construído, mas sabe-se que é mais antigo do que a própria fundação de Portugal. Acredita-se que os primeiros eremitas estabeleceram-se neste local ainda no século IX, embora alguns estudiosos apontem a data de 1147 como o ano de construção do mosteiro. A única certeza, obtida através de documentos oficiais, é que já existia em 1247.
Reza a lenda que teriam sido 13 monges beneditinos os primeiros a estabelecer-se no local. Foram eles os responsáveis pela construção das primeiras estruturas. Aos poucos, foram chegando mais religiosos com vontade de viver aqui uma vida em comunhão com a natureza. No ano de 1247, o Papa Inocêncio IV ordena que o Mosteiro passe a pertencer à Ordem de Cister.
O local é simples e austero, tal como ditavam as regras de vida dos monges cistercienses que aqui viviam. Mesmo ao seu lado corre um ribeiro de águas cristalinas que proporcionam a água que os monges precisavam para o dia a dia. Existem também indícios que os campos adjacentes eram cultivados e que os monges teriam alguns rebanhos.
Nos dias de hoje, é difícil imaginar como alguém poderia viver nestas condições. Mas a vida simples, desapegada de bens materiais e longe de qualquer vestígio de civilização ou riqueza era precisamente o que motivava os monges a viverem enclausurados neste pequeno recanto quase secreto do Gerês, mesmo ao lado da aldeia de Pitões das Júnias.
A aldeia de Pitões das Júnias, no entanto, não existia quando os primeiros monges chegaram aqui, embora muitas vezes se confunda a fundação desta aldeia com a origem do seu mosteiro. Na época, existia uma outra povoação, chamada Aldeia Velha de Juriz e localizada a cerca de 1 quilómetro.
Acredita-se que os monges cistercienses pudessem interagir com os habitantes desta aldeia, entretanto abandonada misteriosamente e cujos habitantes terão fundado a atual Pitões das Júnias. São vários os documentos oficiais que indicam que vários dos monges seriam párocos nas aldeias vizinhas.
Terão sido também estes monges os responsáveis pela evangelização de várias povoações do Gerês, no Norte de Portugal, e de algumas aldeias da vizinha Galiza, em Espanha. Durante os séculos que eles aqui viveram, terão sido responsáveis por rezar missas em várias aldeias dos arredores.
O Mosteiro de Pitões das Júnias (o nome oficial é Santa Maria das Júnias) foi crescendo em influência e adquirindo vários terrenos em toda a região do Gerês e do Barroso, em Trás-os-Montes. Estes terrenos seriam trabalhados pelo povo, que teria que dar aos monges uma parte das suas colheitas.
Como em muitos outros locais do interior do país, o isolamento ditou as suas regras e o Mosteiro de Pitões das Júnias acabou por ser abandonado. O último monge deixou o mosteiro em 1834, ano em que se extinguiram as ordens religiosas em Portugal, e tornou-se pároco de Pitões das Júnias.
Talvez devido ao abandono, sofreu um incêndio no ano seguinte à saída do último monge e que apenas deixou a igreja de pé. Tudo o resto foi destruído, incluindo o dormitório dos monges e a cozinha. As ruínas dessas instalações ainda são hoje visíveis.
Mas antes deste incêndio já tinham existido outros episódios de destruição. O mais célebre (e mais grave) ocorreu durante as guerras da Restauração, em 1640, quando um ataque das tropas espanholas a Pitões das Júnias deixou grande parte das instalações do mosteiro em ruínas.
Hoje, são essas mesmas ruínas que nos contam as histórias dos monges que aqui viviam. O local é de uma beleza simples mas esplendorosa. Recatado, isolado e em plena comunhão com a natureza, é fácil imaginar como o som reconfortante da água do ribeiro poderia proporcionar sossego e paz de espírito aos monges cistercienses.
Se quiser visitar este local, aproveite e dê um salto até à aldeia de Pitões das Júnias, caminhe pelas suas ruas e delicie-se com cada detalhe do dia a dia dos seus habitantes. Prove ainda a deliciosa gastronomia local e aproveite para comprar o famoso fumeiro da região.
Pode ainda fazer um passeio pelos passadiços que conduzem até um pequeno miradouro de onde é possível contemplar aquela que é uma das cascatas mais bonitas e imponentes de todo o Gerês. Trata-se da Cascata de Pitões das Júnias e proporciona umas boas fotos como recordação desta visita a um dos locais mais mágicos do Parque Nacional da Peneda Gerês.
bom dia. talvez a cãmara arranje um mecenas para se ir recuperando o local. pelo que parece, arranjou-se mecenas para recuperar os telhados, a julgar pelas fotos. com tempo, talvez haja vontade de recuperar o resto. é que, o turismo rural e primitivo sempre tem adeptos.