É difícil imaginar um outro local com tanto misticismo como o Mosteiro de Pitões das Júnias, no Gerês. Trata-se de um local totalmente isolado do mundo exterior onde os monges viviam em recolhimento e dependentes apenas de si próprios e daquilo que a terra lhes dava. Na época em que foi construído, era o local perfeito para viver uma vida dedicada apenas à religião.
Não se sabe ao certo quando foi construído, mas sabe-se que é mais antigo do que a própria fundação de Portugal. Acredita-se que os primeiros eremitas estabeleceram-se neste local ainda no século IX, embora alguns estudiosos apontem a data de 1147 como o ano de construção do mosteiro. A única certeza, obtida através de documentos oficiais, é que já existia em 1247.
Reza a lenda que teriam sido 13 monges beneditinos os primeiros a estabelecer-se no local. Foram eles os responsáveis pela construção das primeiras estruturas. Aos poucos, foram chegando mais religiosos com vontade de viver aqui uma vida em comunhão com a natureza. No ano de 1247, o Papa Inocêncio IV ordena que o Mosteiro passe a pertencer à Ordem de Cister.
![Mosteiro de Pitões das Júnias](https://outsider.pt/wp-content/uploads/2022/10/mmaroundtheworld2010_CSBvunQMSKg-1024x1024-1-1024x1024.jpg)
O local é simples e austero, tal como ditavam as regras de vida dos monges cistercienses que aqui viviam. Mesmo ao seu lado corre um ribeiro de águas cristalinas que proporcionam a água que os monges precisavam para o dia a dia. Existem também indícios que os campos adjacentes eram cultivados e que os monges teriam alguns rebanhos.
Nos dias de hoje, é difícil imaginar como alguém poderia viver nestas condições. Mas a vida simples, desapegada de bens materiais e longe de qualquer vestígio de civilização ou riqueza era precisamente o que motivava os monges a viverem enclausurados neste pequeno recanto quase secreto do Gerês, mesmo ao lado da aldeia de Pitões das Júnias.
A aldeia de Pitões das Júnias, no entanto, não existia quando os primeiros monges chegaram aqui, embora muitas vezes se confunda a fundação desta aldeia com a origem do seu mosteiro. Na época, existia uma outra povoação, chamada Aldeia Velha de Juriz e localizada a cerca de 1 quilómetro.
Acredita-se que os monges cistercienses pudessem interagir com os habitantes desta aldeia, entretanto abandonada misteriosamente e cujos habitantes terão fundado a atual Pitões das Júnias. São vários os documentos oficiais que indicam que vários dos monges seriam párocos nas aldeias vizinhas.
![Mosteiro de Pitões das Júnias](https://outsider.pt/wp-content/uploads/2023/05/mmaroundtheworld2010_CSBvunPsw8n-1024x1024-1.jpg)
Terão sido também estes monges os responsáveis pela evangelização de várias povoações do Gerês, no Norte de Portugal, e de algumas aldeias da vizinha Galiza, em Espanha. Durante os séculos que eles aqui viveram, terão sido responsáveis por rezar missas em várias aldeias dos arredores.
O Mosteiro de Pitões das Júnias (o nome oficial é Santa Maria das Júnias) foi crescendo em influência e adquirindo vários terrenos em toda a região do Gerês e do Barroso, em Trás-os-Montes. Estes terrenos seriam trabalhados pelo povo, que teria que dar aos monges uma parte das suas colheitas.
Como em muitos outros locais do interior do país, o isolamento ditou as suas regras e o Mosteiro de Pitões das Júnias acabou por ser abandonado. O último monge deixou o mosteiro em 1834, ano em que se extinguiram as ordens religiosas em Portugal, e tornou-se pároco de Pitões das Júnias.
Talvez devido ao abandono, sofreu um incêndio no ano seguinte à saída do último monge e que apenas deixou a igreja de pé. Tudo o resto foi destruído, incluindo o dormitório dos monges e a cozinha. As ruínas dessas instalações ainda são hoje visíveis.
Mas antes deste incêndio já tinham existido outros episódios de destruição. O mais célebre (e mais grave) ocorreu durante as guerras da Restauração, em 1640, quando um ataque das tropas espanholas a Pitões das Júnias deixou grande parte das instalações do mosteiro em ruínas.
Hoje, são essas mesmas ruínas que nos contam as histórias dos monges que aqui viviam. O local é de uma beleza simples mas esplendorosa. Recatado, isolado e em plena comunhão com a natureza, é fácil imaginar como o som reconfortante da água do ribeiro poderia proporcionar sossego e paz de espírito aos monges cistercienses.
Se quiser visitar este local, aproveite e dê um salto até à aldeia de Pitões das Júnias, caminhe pelas suas ruas e delicie-se com cada detalhe do dia a dia dos seus habitantes. Prove ainda a deliciosa gastronomia local e aproveite para comprar o famoso fumeiro da região.
Pode ainda fazer um passeio pelos passadiços que conduzem até um pequeno miradouro de onde é possível contemplar aquela que é uma das cascatas mais bonitas e imponentes de todo o Gerês. Trata-se da Cascata de Pitões das Júnias e proporciona umas boas fotos como recordação desta visita a um dos locais mais mágicos do Parque Nacional da Peneda Gerês.
bom dia. talvez a cãmara arranje um mecenas para se ir recuperando o local. pelo que parece, arranjou-se mecenas para recuperar os telhados, a julgar pelas fotos. com tempo, talvez haja vontade de recuperar o resto. é que, o turismo rural e primitivo sempre tem adeptos.