Trata-se de um dos rios mais desconhecidos de Portugal e, talvez, um dos mais belos. Em Ribeira de Pena, Trás-os-Montes, o rio Poio deslumbra quem o visita pela pureza das suas águas e pelo seu percurso repleto de rochas gigantes que proporcionam vários locais com cascatas e lagoas onde é possível refrescar-se nos dias de Verão.
Até há pouco tempo, o Rio Poio era apenas conhecido pelos habitantes das redondezas, especialmente na aldeia de Cerva. No entanto, nos últimos anos, tem dado cada vez mais que falar e atrai cada vez mais curiosos.
O rio Poio é um daqueles rios mágicos, quase secretos, que fazem parte das memórias da infância dos habitantes destas redondezas.
É fácil imaginar o prazer proporcionado pelos mergulhos nas suas lagoas, que são muitas ao longo do seu percurso. Mas difícil de imaginar é como as pessoas se deslocavam até aos moinhos de água que podemos encontrar ao longo do percurso, agora já abandonados.
Nos últimos anos, o rio Poio ganhou fama nacional. A mensagem passou de boca em boca, quase por segredo, os amigos chamaram os amigos e… o Poio foi enchendo-se de gente, sobretudo no Verão. Mas desengane-se se pensa que este rio é fácil de percorrer.
Apesar de pequeno, o Rio Poio é um puro rio de montanha, localizado num vale estreito e com escarpas a rodear as suas margens. O único caminho possível para subir o seu rio é o seu leito.
O problema (ou, por ventura, aquilo que o torna belo e mágico) é que o leito do rio Poio está repleto de penedos enormes, alguns do tamanho de carros ou casas.
Aliás, a palavra Poio, segundo os habitantes locais, significa socalco (nome muito adequado ao leito do rio, que parece ser formado por socalcos de penedos).
Subir o rio é possível, mas um pequeno percurso transforma-se numa viagem de 3 horas, no mínimo, até chegar ao ponto mais sublime, a cascata Cai d’Alto. E não se esqueça que, por estar rodeado por escarpas, o único regresso possível é outra vez pelo leito do rio, ou seja, mais 3 horas para voltar.
A melhor forma de percorrer o rio Poio é começar na pequena aldeia de Cabriz. Para aqui chegar, deverá ir, provavelmente, pela estrada nacional 312. Desça em direção à aldeia e siga em frente. Ao passar a aldeia, irá encontrar uma pequena ponte. Este é um dos locais onde pode estacionar o carro e começar a subida pelo rio.
Outra possibilidade é virar à esquerda na ponte e continuar até encontrar uma subida íngreme. Suba pela estrada empedrada até encontrar um pequeno largo com 2 ou 3 casas onde pode estacionar o carro.
Do seu lado esquerdo, lá em baixo, irá ver o rio Poio. Não se esqueça, no entanto, de algo muito importante nesta segunda opção: após uma caminhada de pelo menos 6 horas (ida e volta), subir aquela encosta de novo até ao local onde estacionou o seu carro irá ser a machadada final nas suas pernas, muita cansadas por causa da subida do rio.
As lagoas e cascatas ao longo do rio são muitas mas nem todas convidam a banhos. Algumas são bastante perigosas. Por isso, analise bem o local antes de estender a sua toalha e se lançar à água.
Se tiver energia suficiente para chegar até ao fim do trajeto irá encontrar a já referida cascata Cai d’Alto, com 60 metros de altura e uma das mais altas de Portugal. Como já deve ter percebido, o rio Poio não acaba nesta cascata.
No entanto, quando chegar até ela, irá perceber que é impossível continuar a pé para o outro lado porque irá encontrar-se num local rodeado apenas por escarpas íngremes e perigosas.
Portanto… refresque-se o mais que puder, desfrute do rio e da paisagem e prepare-se para fazer o mesmo caminho de novo, desta vez no sentido inverso.
Um dos conselhos mais importantes que se podem dar a quem quer subir este rio é que o Rio Poio não é para todos e mesmo os mais bem preparados devem ter todos os cuidados possíveis. Assim sendo, tome nota das seguintes recomendações:
- Não faça o percurso com sandálias, mesmo sendo Verão. Saltar de rocha em rocha existe um bom calçado, resistente e aderente à rocha.
- Antes de decidir fazer o percurso, analise a meteorologia dos últimos dias. Se tiver chovido bastante, é provável que o rio leve muita água e que torne difícil, ou quase impossível, ultrapassar algumas partes do seu trajeto.
- Ainda em relação à meteorologia, evite fazer o percurso em épocas do ano em que é habitual cair orvalho durante a noite. De manhã, as rochas ainda estarão húmidas e, portanto, muito escorregadias, havendo um perigo maior de ocorrência de acidentes.
- Algumas das zonas do percurso não possuem rede de telemóvel (ou possuem rede muito fraca. Este é um pormenor importante porque caso tenha algum acidente, poderá ser difícil pedir ajuda.
- Leve comida consigo suficiente para algumas horas e adequada ao esforço físico, mas tente não levar uma mochila demasiado pesada que atrapalhe a sua agilidade na hora de saltar de pedra em pedra.
- Se optar por fazer o percurso durante os meses de Verão, leve consigo protetor solar e um chapéu. A água também é essencial, claro, mas pode beber a própria água do rio (muito limpa e pura).
- O percurso completo até à Cascata Cai d’Alto não é aconselhável a crianças! Se as suas crianças já tiverem alguma agilidade, é apenas recomendável fazer o trajeto até às primeiras lagoas (cerca de 200 metros após a descida da encosta onde estacionou o carro).
E acima de tudo, lembre-se: o Rio Poio é um dos rios mais puros, lindos e menos poluídos de Portugal. Por favor, colabore para que ele se mantenha assim durante muito tempo. Respeite o rio e as pessoas e recolha o lixo.
Preservar o rio Poio é garantir que as memórias da infância dos habitantes destas redondezas serão respeitas e que o rio poderá, no futuro, continuar a fazer parte da vida (e das memórias) dos mais novos.