Localizada na encosta sul da Serra da Gardunha, a pouco mais de 500 metros de altitude, a vila de Alpedrinha pertence ao concelho do Fundão. Tem pouco mais de 1000 habitantes mas, nos seus tempos áureos, chegou a ter mais de 7 mil. Chamam-lhe a “Sintra das Beiras” e é um dos maiores segredos do Centro de Portugal.
Quem visitar Alpedrinha nos dias de hoje pode ter uma pequena ideia da importância que esta vila terá tido no passado. Alpedrinha foi sede de concelho até ao século XIX. Mas mais importante do que isso, é a quantidade de solares e de casas senhoriais que por aqui abundam, testemunhos das famílias poderosas que viveram aqui.
Não é portanto de estranhar, por exemplo, que tenha sido aqui construído o primeiro teatro das Beiras, que na época contava com 200 lugares sentados e 20 camarotes. O edifício foi construído em 1839 e ainda existe, sendo que hoje é local onde ensaia a companhia de teatro de Alpedrinha.
Foi graças a esta quantidade invulgar de casas brasonadas que Alpedrinha ganhou o apelido de “Sintra das Beiras”. Na verdade, muitas pessoas importantes para a história de Portugal nasceram aqui ou fizeram desta vila o seu lar.
Uma delas foi o Cardeal D. Jorge da Costa, crucial na assinatura do Tratado de Tordesilhas e fundador da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa. Chegou a ser eleito Papa mas recusou o título. A sua influência junto do Papa, no entanto, foi crucial para as ambições portuguesas.
Os solares abundam, portanto, por toda a vila histórica de Alpedrinha. Destacam-se a Casa da Comenda, a Casa das Senhoras Mendes ou Solar dos Pancas, a Casa do Pátio ou Solar dos Britos, a Casa do Barreiro, as Casas do Cardeal e a Casa da Câmara (antigos Paços do Concelho).
Mas o grande destaque é, certamente, o Palácio do Picadeiro. A sua construção começou no século XVIII, a mando de um magistrado importante de Alpedrinha. Mas o dinheiro acabou e a obra nunca foi terminada. Passou por várias mãos e teve várias funções, mas hoje funciona como um museu onde, entre outras coisas, se podem ver os famosos móveis embutidos de Alpedrinha.
A arte da marcenaria é, aliás, um dos grandes destaques da vila. Os artesãos de Alpedrinha eram famosos pela sua qualidade e produziam móveis embutidos muito procurados pela realeza de Lisboa. O entalhador do Rei D. Carlos I era natural da vila e foi ele que deu início à fama. Hoje, a arte está quase a desaparecer.
Alpedrinha é também famosa pelas suas fontes de água. Existem várias espalhadas pela vila, mas a mais famosa é o Chafariz Real, que foi mandado construir por D. João V. Possui 3 bicas e, segundo a lenda, a da direita é para as mulheres casadas, a do meio é para as solteiras e a da esquerda… para as bruxas!
Na terceira semana do mês de Setembro ocorre um evento que traz sempre muita gente à vila: assinala-se a transumância, com a passagem dos rebanhos por Alpedrinha a caminho de Idanha. Apesar de já não se praticar como antigamente, os seus habitantes fazem questão de recordar este hábito secular de transportar o gado para locais com melhores pastos no inverno.
O Centro de Portugal é rico em vilas e aldeias históricas e, por isso, não podiam faltar outros locais para visitar nos arredores de Alpedrinha. Bem perto da vila fica Monsanto (aliás, é possível vê-la ao longe) e ainda as aldeias históricas de Castelo Novo e de Idanha-a-Velha. Qualquer uma delas merece um dia de passeio (ou mais).
Outros locais dignos de registo dos arredores, também aldeias de montanha (tal como Alpedrinha), são Alcaide e Alcongosta, ambas pertencentes ao concelho do Fundão. São locais pequenos mas muito típicos, tradicionais e repletos de pequenos recantos para explorar, com uma população que recebe quem os visita à boa maneira serrana.
Outra das melhores formas de descobrir esta região do Centro de Portugal, especialmente a Serra da Gardunha, é realizando um trilho ou percurso pedestre. Destaque para o “Caminho do Anjo da Guarda”, um trilho circular com um trajeto de 6 quilómetros que passa pela vila e entra pela serra, com dificuldade moderada.
E no final da sua visita a Alpedrinha, não vá embora sem antes comprar uma pequena lembrança ou um produto regional. Além de ajudar o comércio local, irá também contribuir para que os seus habitantes possam continuar a viver aqui e a recebê-lo sempre de braços abertos.