Quinta-feira, 8 Junho, 2023

Branda da Aveleira: um pequeno segredo às portas do Gerês

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A Branda da Aveleira, localizada às portas do Parque Nacional da Peneda Gerês, é um daqueles casos que mostra que a resiliência das pessoas não tem limites. Utilizada durante séculos como residência temporária, este pequeno aglomerado de casas esteve quase a desaparecer no século passado. Mas renasceu das cinzas e agora espera pela sua visita.

Para compreender a história da Branda da Aveleira, em Melgaço, é preciso saber primeiro o que é uma Branda. As brandas eram locais localizados a altitudes elevadas e espalhados um pouco por todo o Parque Nacional da Peneda Gerês. Era para aqui que os pastores traziam o seu gado nos meses mais quentes da Primavera e do Verão.

Para trás ficavam as Inverneiras, localizadas a altitudes mais baixas, onde a população vivia durante os meses mais frios. Os motivos desta peregrinação constante entre brandas e inverneiras é fácil de explicar: vivia-se no local que proporcionava melhores condições consoante a época do ano.

Branda da Aveleira
Branda da Aveleira

Assim, durante os meses frios do Inverno, a população abrigava-se nas baixas altitudes, onde o clima era menos extremo e onde era possível cultivar alguns legumes. No Verão, os pastores levavam o gado para as zonas mais altas, onde havia bons pastos, libertando assim os campos das inverneiras para as plantações agrícolas.

A este fenómeno chama-se transumância e foi praticado durante séculos pelas populações do Parque Nacional da Peneda Gerês. As duras condições da região assim o ditavam e os seus habitantes, munidos apenas da sua sabedoria popular, adaptavam-se e sobreviviam como podiam.

A transumância já quase não se faz, embora algumas aldeias do Parque Nacional da Peneda Gerês teimem ainda em manter viva a tradição, nem que seja por uma questão de honra. É o caso de Fafião, por exemplo, onde ainda hoje, a cada ano, se transporta o gado para o alto da montanha.

No caso da Branda da Aveleira, sabe-se que existe pelo menos desde o século XII. Manteve-se ativa até às décadas de 60 e 70 do século passado, altura em que a forte emigração deixou a aldeia quase abandonada. Mas os seus habitantes não se esqueceram dela: voltaram mais tarde e recuperaram grande parte das suas casas.

Branda da Aveleira
Branda da Aveleira

Hoje, a Branda da Aveleira possui um conjunto de casas destinadas ao turismo rural. Foram cuidadosamente recuperadas, mantendo a traça original. Tudo foi reconstruído de modo a manter viva a essência da aldeia e proporcionando o conforto que se exige nos dias de hoje.

As antigas casas dos pastores, chamadas de “cardenhas”, deram lugar a habitações onde qualquer pessoa pode pernoitar. No passado, estas casas albergavam o gado no rés-do-chão e os aposentos dos pastores no primeiro andar. Hoje, são uma opção ideal para passar uns dias longe de tudo e de todos, em perfeita comunhão com a natureza.

Por se localizar a mais de 1100 metros de altitude, esta pequena aldeia é um local repleto de ar puro e com vistas desafogadas. No Inverno, é normal ter alguma neve ou, pelo menos, contemplar os cumes das montanhas pintados de branco. No Verão, são os seus campos verdejantes que chamam a atenção.

A aldeia possui o seu próprio restaurante, que serve de apoio ao turismo rural ou a quem visita o local apenas de passagem. E depois de um repasto de qualidade, pode sempre optar por gastar as energias através de um dos trilhos que passa pela aldeia. Recomendamos o Trilho da Branda da Aveleira, com 8 quilómetros de extensão.

Mesmo ao lado da Branda da Aveleira fica a aldeia de Vale de Poldros, conhecida por ter apenas um habitante e um restaurante. Vale de Poldros também era uma branda e, por isso mesmo, possui muitas características idênticas à Branda da Aveleira.

Se preferir descobrir os arredores de carro, existem muitos outros locais para descobrir a uma curta distância. Bem perto, localiza-se a bonitas aldeias de Rouças e de Gavieira. Continuando pela mesma estrada pode chegar ao Miradouro do Tibo. E um pouco mais adiante pode visitar o Santuário da Nossa Senhora da Peneda.

A aldeia de Sistelo, com os seus socalcos, também está perto. Para chegar até ela, o caminho mais perto é a pé, mas o mais fácil é de carro. E se quiser conduzir até lá terá de contar pelo menos com 40 minutos por entre as estradas serpenteantes da montanha.

Seja apenas de passagem ou para ficar uns dias, visitar a Branda da Aveleira, mesmo às portas do Gerês, é recuar no tempo e descobrir um país que pensava não existir. Um país repleto de tradições e de gente genuína e acolhedora. Por isso, esforce-se por conhecer um pouco mais da cultura das gentes do Parque Nacional da Peneda Gerês. Só tem a ganhar com isso.

Diana Santos
Diana Santos
Nascida e criada em Barcelos, foi no Porto que estudou jornalismo mas chama casa à cidade de Guimarães. Alia o gosto pela escrita à sua paixão por viagens.

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