Edifícios abandonados há muitos, mas poucos serão tão especiais e com uma história tão curiosa como as Termas Rádium, no centro de Portugal. Aquilo que era um símbolo de megalomania acabou por se tornar numa das principais atrações turísticas da região, embora não pelos melhores motivos.
No Sabugal, na freguesia de Sortelha, encontramos as ruínas de um hotel conhecido por diversos nomes, como Hotel da Pena ou Hotel Águas de Rádium. Hoje, estas ruínas são uma das grandes atrações da região, até porque este património arquitetónico tem algo de diferente, até porque o hotel tem ares de castelo, fruto de uma ambição megalómana.
No seu apogeu, o hotel contava com muitas divisões e anexos, tendo noventa quartos e capacidade para 150 pessoas. As enormes infraestruturas tinham como objetivo fazer diversas utilizações das águas, através de banhos, ingestão de água termal, ou aplicação de lamas ou compressas elétricas.
Mas não era só na arquitetura que o hotel revelava ambição: visava tornar-se uma referência na Europa, graças à alta tecnologia que usava. A sua estação de tratamentos termais tinha por base o uso de águas radioativas, chamadas de Rádium.
Se, para nós, isso é impensável, e nos revela o motivo de o hotel fechar, a verdade é que na época se acreditava que materiais radioativos tinham poderes curativos, chegando a fazer-se até alimentos “fortificados” com tais materiais. Hoje, sabemos que a radioatividade é nociva para os seres humanos e nos faz adoecer, precisamente o contrário do que se pretendia nestas termas.
Assim, neste hotel se praticava um envenenamento inconsciente, já que os médicos e cientistas que por aqui trabalhavam desconheciam os efeitos do que praticavam, e adoeciam graças ao que faziam. Foi Marie e Pierre Curie quem isolaram quimicamente o rádio do mineral pechblenda, do qual o urânio é o principal elemento.
Essa descoberta valeu-lhes o Prémio Nobel em 1903, em conjunto com Henri Becquerel. Na altura, pensava-se que se podiam usar estas substâncias para criar os mais diversos produtos, com resultados devastadores. O que se pensava ser um remédio milagroso era, afinal, um veneno.
Apesar de o rádio ter levado ao desenvolvimento da radiologia e dos tratamentos para cancro por radiação (que ainda hoje se usam), na Segunda Guerra Mundial confirmou-se que a radioatividade era nefasta para a saúde. Quanto a Marie Curie, faleceu a 4 de julho de 1934, no sanatório de Sancellemoz, por anemia aplástica, que provavelmente resultou da exposição prolongada à radiação.
Voltando ao hotel, a sua origem será uma companhia de exploração mineira de França, que ficou com o terreno que, mais tarde, ficou sob a responsabilidade da Companhia Portuguesa de Rádium. Como se pode ver, o local estava destinado ao fracasso, e por isso o hotel caiu em desgraça e foi abandonado.
Nos anos 60, foi leiloado em Lisboa e comprado por Ramiro Lopes, que o vendeu ao seu irmão em 2002. A ideia de António Lopes era criar ali um monumental hotel de cinco estrelas, com campo de golfe e aldeamento com 146 villas. No entanto, apesar de o projeto ter sido aprovado, nada se fez.
Assim, o Hotel Águas de Rádium ainda se encontra abandonado, mostrando sinais da passagem do tempo, e atraindo visitantes, que ainda se maravilham com os vestígios de belas esplanadas, fontes termais e demais anexos, que nos dão um vislumbre do esplendor que este hotel teria no seu período áureo.
Caso pretenda visitar os arredores deste edifício abandonado, uma das melhores opções é a aldeia histórica de Sortelha, que fica a poucos minutos de distância. Trata-se de uma das aldeias mais bem conservadas de Portugal e, visitá-la, é fazer uma autêntica viagem no tempo. As suas ruas e casas de pedra e as suas muralhas fazem desta aldeia um dos melhores exemplos da arquitetura medieval em Portugal.
Outras opções de visita são Belmonte e Sabugal. A primeira é considerada uma aldeia histórica e é conhecida por ser a terra natal de Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil. Quanto ao Sabugal, destaque sobretudo para o seu bem conservado castelo, que é um dos mais bonitos de Portugal.