Bem no extremo nordeste de Portugal, Trás-os-Montes é aquilo que o seu próprio nome nome indica: uma terra atrás dos montes e rodeada, toda ela, por montanhas. Por isso mesmo, sempre foi um caso peculiar em Portugal: isolada, longe de tudo e de todos, preservou muitas das suas tradições seculares que hoje se mantêm vivas nas suas aldeias mais típicas.
E estas aldeias podem ser muito diferentes entre elas! É certo que são feitas de pedra, rústicas e austeras, mas podem variar muito consoante a região. Em Montesinho e no Douro podem ser feitas de xisto, no Gerês podem ser feitas de granito. Mas embora diferentes, todas possuem um charme único que apenas se pode encontrar em Trás-os-Montes.
Visitá-las é fazer uma autêntica viagem no tempo, pelo nosso passado enquanto país, pela nossa história e pela nossa cultura. É também descobrir um Portugal que julgava não existir e que, não raras vezes, está completamente esquecido por quem de direito. Descubra algumas das aldeias mais típicas de Trás-os-Montes.
1. Rio de Onor
Do lado de Portugal, temos Rio de Onor. Do lado espanhol, Rihonor de Castilla. Ficou confuso? Não fica só nessa sensação, já que Saramago, quando por aqui passou, o ficou, descrevendo a experiência no livro Viagem a Portugal, de 1981: “Afinal de contas, onde está a fronteira? Como se chama este país, aqui? Ainda é Portugal? Já é Espanha? Ou é só Rio de Onor, e nada mais do que isso?”.
Rio de Onor é atravessado pela fronteira entre Portugal e Espanha, embora, para os habitantes desta aldeia do concelho de Bragança, a fronteira seja apenas uma formalidade. A população até trata as duas aldeias (a portuguesa e a espanhola) como “povo de acima” e “povo de abaixo”. O gado atravessava com frequência a fronteira livremente, e a população dos dois países tinha muitas vezes terras do lado oposto da fronteira.
Rio de Onor é uma aldeia comunitária, o que significa que os habitantes partilham algumas coisas e se entreajudam. Partilham, por exemplo, o forno comunitário, existem terrenos agrícolas onde todos devem trabalhar, e um rebanho que pasta nestes terrenos. No entanto, hoje em dia, este estilo de vida comunitário já não é tão praticado, já que os habitantes têm uma idade mais avançada.
2. Pitões das Júnias
Localizada a cerca de 1200 metros de altitude, Pitões das Júnias é a segunda aldeia mais alta de Portugal. Está totalmente inserida no Parque Nacional da Peneda Gerês e pertence ao concelho de Montalegre. É a porta de entrada no Gerês transmontano e um dos grandes cartões de visita desta belíssima região.
Entrar em Pitões das Júnias e deambular pelas suas ruas, becos e ruelas é uma experiência única. Aqui encontra um Gerês diferente daquilo a que está habituado: um Gerês transmontano, com as suas peculiares e antigas tradições e o seu modo de vida profundamente ligado à terra.
Fruto do seu longo isolamento, Pitões das Júnias mantém ainda hoje o traçado típico de uma aldeia medieval, bem como um modo de vida que se funde em perfeita harmonia com a natureza envolvente. Tudo aqui gira em volta da terra e daquilo que ela tem para dar (ou para tirar). A beleza agreste das montanhas moldou os habitantes de Pitões das Júnias e estes souberam adaptar-se ao meio que os circunda.
3. Montesinho
Já quase não existem locais assim. Mas Montesinho continua, orgulhosamente, a ser uma exceção. Esta pequena aldeia, pertencente a Bragança e localizada no coração do parque natural que lhe dá o nome, é uma das mais típicas e bonitas de Trás-os-Montes. Aqui ainda se respira tradição e ser genuíno é a palavra de ordem.
Localizada a pouco mais de 1000 metros de altitude, Montesinho foi totalmente recuperada mas conseguiu manter-se fiel às suas origens. As casas continuam a ser tipicamente trasmontanas, feitas de granito e com telhados de lousa ou ardósia, as rochas que abundam na região. Também as suas ruas são calcetadas com granito.
As varandas das casas continuam a ser de madeira, decoradas com flores que, na Primavera e no Verão, enchem as ruas da aldeia com mil e um cores diferentes e lhe dão um pouco da vida que se tinha perdido durante os meses frios de Inverno. Aliás, esta zona de Trás-os-Montes é sobejamente conhecida por ter neves em abundância durante esta época do ano.
4. Travassos do Rio
Existem 2 aldeias com o nome Travassos em Montalegre. A esta é acrescentado “do Rio” por se localizar ao longo do vale do rio Cávado. É uma típica aldeia transmontana que fica já dentro do Parque Nacional da Peneda Gerês. As suas ruas e as suas casas são em pedra e o aspeto rústico está presente em todo o lado.
Travassos do Rio é famosa graças a um dos mais curiosos monumentos de Trás-os-Montes: a Torre do Boi. Esta enorme construção foi erigida em honra a um lendário boi da aldeia, animal muito importante nesta região, tanto pela carne como pelas famosas “chegas de bois”. Ao que parece, o lendário boi foi um campeão imbatível destas lutas.
Longe de tudo e de todos, Travassos do Rio conseguiu manter-se como uma aldeia típica e pouco afetada pelas construções modernas que tanto descaracterizaram outras aldeias. Um passeio pelas suas ruas permite descobrir fontes de água, fornos, casebres para animais e, claro, a famosa Torre do Boi.
5. Vilarinho de Negrões
Em Montalegre, existe uma aldeia de uma beleza inigualável e muito pitoresca, que parece crescer por sobre a água. Afinal, as casas estão praticamente rodeadas por água, o que lhe dá um aspeto único no nosso país.
Falamos da aldeia de Vilarinho de Negrões, um local que merece a sua visita mais demorada, para que possa conhecer as imediações, o património natural e arquitetónico e deliciar-se com as iguarias regionais. Aqui, conseguirá encontrar sossego e tranquilidade, perfeito quer seja para uma viagem sozinho quer em família.
Situada na margem sul da Albufeira do Alto Rabagão, cuja construção terminou em 1964, Vilarinho de Negrões encontra-se numa península estreita, com os seus casarios típicos da região a espraiarem-se por esta língua de terra.