Bem no extremo nordeste de Portugal, Trás-os-Montes é aquilo que o seu próprio nome nome indica: uma terra atrás dos montes e rodeada, toda ela, por montanhas. Por isso mesmo, sempre foi um caso peculiar em Portugal: isolada, longe de tudo e de todos, preservou muitas das suas tradições seculares que hoje se mantêm vivas nas suas aldeias mais típicas.
E estas aldeias podem ser muito diferentes entre elas! É certo que são feitas de pedra, rústicas e austeras, mas podem variar muito consoante a região. Em Montesinho e no Douro podem ser feitas de xisto, no Gerês podem ser feitas de granito. Mas embora diferentes, todas possuem um charme único que apenas se pode encontrar em Trás-os-Montes.
Visitá-las é fazer uma autêntica viagem no tempo, pelo nosso passado enquanto país, pela nossa história e pela nossa cultura. É também descobrir um Portugal que julgava não existir e que, não raras vezes, está completamente esquecido por quem de direito. Descubra algumas das aldeias mais típicas de Trás-os-Montes.
1. Rio de Onor
![Rio de Onor](https://outsider.pt/wp-content/uploads/2022/09/paulo.j.t.mateus_CTu6jrwsIxi-e1636630971793-819x1024.jpg)
Do lado de Portugal, temos Rio de Onor. Do lado espanhol, Rihonor de Castilla. Ficou confuso? Não fica só nessa sensação, já que Saramago, quando por aqui passou, o ficou, descrevendo a experiência no livro Viagem a Portugal, de 1981: “Afinal de contas, onde está a fronteira? Como se chama este país, aqui? Ainda é Portugal? Já é Espanha? Ou é só Rio de Onor, e nada mais do que isso?”.
Rio de Onor é atravessado pela fronteira entre Portugal e Espanha, embora, para os habitantes desta aldeia do concelho de Bragança, a fronteira seja apenas uma formalidade. A população até trata as duas aldeias (a portuguesa e a espanhola) como “povo de acima” e “povo de abaixo”. O gado atravessava com frequência a fronteira livremente, e a população dos dois países tinha muitas vezes terras do lado oposto da fronteira.
Rio de Onor é uma aldeia comunitária, o que significa que os habitantes partilham algumas coisas e se entreajudam. Partilham, por exemplo, o forno comunitário, existem terrenos agrícolas onde todos devem trabalhar, e um rebanho que pasta nestes terrenos. No entanto, hoje em dia, este estilo de vida comunitário já não é tão praticado, já que os habitantes têm uma idade mais avançada.
2. Pitões das Júnias
![Pitões das Júnias](https://outsider.pt/wp-content/uploads/2022/09/10631142_853089538068767_794885092590957012_o-3-e1446607020948-1024x768.jpg)
Localizada a cerca de 1200 metros de altitude, Pitões das Júnias é a segunda aldeia mais alta de Portugal. Está totalmente inserida no Parque Nacional da Peneda Gerês e pertence ao concelho de Montalegre. É a porta de entrada no Gerês transmontano e um dos grandes cartões de visita desta belíssima região.
Entrar em Pitões das Júnias e deambular pelas suas ruas, becos e ruelas é uma experiência única. Aqui encontra um Gerês diferente daquilo a que está habituado: um Gerês transmontano, com as suas peculiares e antigas tradições e o seu modo de vida profundamente ligado à terra.
Fruto do seu longo isolamento, Pitões das Júnias mantém ainda hoje o traçado típico de uma aldeia medieval, bem como um modo de vida que se funde em perfeita harmonia com a natureza envolvente. Tudo aqui gira em volta da terra e daquilo que ela tem para dar (ou para tirar). A beleza agreste das montanhas moldou os habitantes de Pitões das Júnias e estes souberam adaptar-se ao meio que os circunda.
3. Montesinho
![Montesinho](https://outsider.pt/wp-content/uploads/2022/09/montesinho2049-e1487100282577-1024x683.jpg)
Já quase não existem locais assim. Mas Montesinho continua, orgulhosamente, a ser uma exceção. Esta pequena aldeia, pertencente a Bragança e localizada no coração do parque natural que lhe dá o nome, é uma das mais típicas e bonitas de Trás-os-Montes. Aqui ainda se respira tradição e ser genuíno é a palavra de ordem.
Localizada a pouco mais de 1000 metros de altitude, Montesinho foi totalmente recuperada mas conseguiu manter-se fiel às suas origens. As casas continuam a ser tipicamente trasmontanas, feitas de granito e com telhados de lousa ou ardósia, as rochas que abundam na região. Também as suas ruas são calcetadas com granito.
As varandas das casas continuam a ser de madeira, decoradas com flores que, na Primavera e no Verão, enchem as ruas da aldeia com mil e um cores diferentes e lhe dão um pouco da vida que se tinha perdido durante os meses frios de Inverno. Aliás, esta zona de Trás-os-Montes é sobejamente conhecida por ter neves em abundância durante esta época do ano.
4. Travassos do Rio
![Travassos do Rio (Fernando Ribeiro)](https://outsider.pt/wp-content/uploads/2022/05/31421385737_06d6db4c17_h-e1639956254463-1024x684.jpg)
Existem 2 aldeias com o nome Travassos em Montalegre. A esta é acrescentado “do Rio” por se localizar ao longo do vale do rio Cávado. É uma típica aldeia transmontana que fica já dentro do Parque Nacional da Peneda Gerês. As suas ruas e as suas casas são em pedra e o aspeto rústico está presente em todo o lado.
Travassos do Rio é famosa graças a um dos mais curiosos monumentos de Trás-os-Montes: a Torre do Boi. Esta enorme construção foi erigida em honra a um lendário boi da aldeia, animal muito importante nesta região, tanto pela carne como pelas famosas “chegas de bois”. Ao que parece, o lendário boi foi um campeão imbatível destas lutas.
Longe de tudo e de todos, Travassos do Rio conseguiu manter-se como uma aldeia típica e pouco afetada pelas construções modernas que tanto descaracterizaram outras aldeias. Um passeio pelas suas ruas permite descobrir fontes de água, fornos, casebres para animais e, claro, a famosa Torre do Boi.
5. Vilarinho de Negrões
![Vilarinho de Negrões](https://outsider.pt/wp-content/uploads/2022/09/1836816_836772183033836_3511775260599252449_o-1-1024x768.jpg)
Em Montalegre, existe uma aldeia de uma beleza inigualável e muito pitoresca, que parece crescer por sobre a água. Afinal, as casas estão praticamente rodeadas por água, o que lhe dá um aspeto único no nosso país.
Falamos da aldeia de Vilarinho de Negrões, um local que merece a sua visita mais demorada, para que possa conhecer as imediações, o património natural e arquitetónico e deliciar-se com as iguarias regionais. Aqui, conseguirá encontrar sossego e tranquilidade, perfeito quer seja para uma viagem sozinho quer em família.
Situada na margem sul da Albufeira do Alto Rabagão, cuja construção terminou em 1964, Vilarinho de Negrões encontra-se numa península estreita, com os seus casarios típicos da região a espraiarem-se por esta língua de terra.